sexta-feira, 9 de julho de 2010

Caracterização de Acordo com as Cadeias Tróficas

Apesar da grande variedade de ecossistemas ao longo do litoral brasileiro, eles podem ser classifi cados em quatro grandes grupos, de acordo com as principais cadeias trófi cas (referente à nutrição) envolvidas:

ECOSSISTEMA PELÁGICO BASEADO NO FITOPLÂNCTON

Os organismos fi toplanctônicos que sustentam a produtividade primária do mar são pequenas plantas, com formas adaptadas pela redução do tamanho para permanência na coluna d’água, os pequenos tamanhos favorecendo o aumento da taxa de superfície/volume e a exploração efi ciente dos poucos nutrientes disponíveis na zona eufótica (corresponde à camada de mar ou lago penetrada pela luz solar com intensidade sufi ciente para permitir a fotossíntese;
zona epipelágica) da região tropical.
As águas continentais da plataforma das Regiões Norte, Nordeste e Leste são caracterizadas como oligotrófi cas (pobreza de um meio qualquer em nutrientes minerais) e sua base de produção primária é sustentada pelo picoplâncton (inferior a 1 μm). Devido à grande profundidade da termoclina, o suprimento de nutrientes à superfície é difi cultado. Já na Região Sudeste, a penetração da Água Central do Atlântico Sul (Acas), principalmente no verão, na camada de fundo da plataforma continental, alcançando até a região costeira, determina o enriquecimento das águas
superfi ciais e a possibilidade de sustentação de grandes populações de peixes pelágicos.
Por outro lado, as regiões de ressurgência1 são mais ricas em fi toplâncton de maiores dimensões, aumentando signifi cativamente os elos mais baixos da cadeia alimentar e, conseqüentemente, os estoques de recursos vivos. Exemplo típico do fenômeno pode ser observado na Região Sudeste (Cabo Frio) e, menos freqüentemente, na Região Sul (Cabo de Santa Marta).
As populações de pequenos pelágicos são altamente dependentes das oscilações nas condições oceanográfi cas, o que torna mais complexo o seu gerenciamento e a defi nição de capturas potenciais sustentáveis.

ECOSSISTEMA BÊNTICO DA PLATAFORMA CONTINENTAL

A comunidade bêntica do litoral divide-se em duas categorias: a que habita a Plataforma Continental plana com fundo de areia, lama e argila (Regiões Norte, Sudeste e Sul) e a da Plataforma Continental irregular e rochosa, formada por algas calcárias (Regiões Nordeste e Leste). Tal comunidade não possui a base de produção primária, mas recebe a matéria orgânica da comunidade pelágica ou da terra.
A maior parte dos peixes demersais (peixes que vivem próximo ao fundo do mar) alimenta- se de animais bênticos que vivem sobre a superfície de fundo. No entanto, a infl uência da sazonalidade ambiental é marcante sobre o fl uxo de energia do sistema, quando se leva em conta a abundância relativa das espécies de peixes presentes no verão e no inverno. Há aumento considerável de peixes que se utilizam de peixes e crustáceos pelágicos, originados do aumento da produtividade pelágica durante o verão. Já no inverno, com a ressuspensão de sedimentos do fundo e a conseqüente maior disponibilidade dos invertebrados detritívoros (aquele que se nutre de detritos), grande número de peixes comedores desses invertebrados predomina no fundo do mar.
O fenômeno da ressurgência é caracterizado pelo afloramento de águas profundas, geralmente frias e ricas em nutrientes, em determinadas regiões dos oceanos. Essas regiões têm, em geral, alta produtividade primária e importância comercial para a pesca.
Fenômenos oceanográfi cos localizados, como a perturbação da estratifi cação vertical na região de Abrolhos, no litoral Leste, as ressurgências resultantes da interação entre as correntes oceânicas e o relevo submarino (ilhas e montes submersos), na costa Nordeste, e a penetração do ramo costeiro da Corrente das Malvinas, no litoral Sul, contribuem para o enriquecimento e a produtividade das águas superfi ciais, com refl exos importantes para as comunidades bentônicas.

ECOSSISTEMAS DE MANGUEZAIS NA REGIÃO ESTUARINA-LAGUNAR

O ecossistema manguezal é caracterizado pela presença aérea de biomassa de mangues no
litoral, entre a linha de preamar e o nível médio de maré. Por ocorrer nas regiões tropical e subtropical, onde a radiação solar é sempre abundante, e por absorver água doce a partir da salgada,
os mangues possuem alta capacidade de produção primária, que chega até 350-500 g/cm2 ao ano.
Entre as raízes de mangues habita grande quantidade de crustáceos, moluscos e outros invertebrados, constituindo um bioma bastante rico. Apenas 5% da produção total de folhas de mangues são consumidos pelos herbívoros terrestres e o restante entra no sistema aquático como detritos.
A vegetação de mangues fornece alimentos e retém detritos nesse ambiente. Os crustáceos são abundantes, refugiando-se em galerias escavadas no substrato (meio que serve de base para o desenvolvimento de um organismo) ou correndo sobre a superfície do solo. As raízes do mangue servem de substrato para grande número de moluscos bivalves (molusco cuja concha é formada por duas peças simétricas/marisco) e seu intrincado sistema serve de proteção às larvas e jovens de muitos organismos aquáticos.
Conforme já se disse, nas unidades das terras contíguas à linha da costa, os manguezais têm ampla distribuição latitudinal. Observam-se, contudo, suas maiores concentrações no litoralNorte, no Amapá, no Pará e no Maranhão. Cerca de 85% dos manguezais brasileiros ocorrem no litoral daqueles estados e, apenas no Maranhão, a área ocupada de 500 mil hectares corresponde a quase metade da superfície total de mangues no Brasil.
A fl ora dos manguezais é constituída por pequeno número de espécies exclusivas desse ecossistema e de algumas espécies associadas, que podem ocorrer em outras formações litorâneas. A sua fauna pode ser agrupada em quatro grupos de espécies funcionais distintas: as diretamente associadas às estruturas aéreas das árvores, incluindo pássaros, caracóis e ostras; as do ambiente terrestre, que visitam o manguezal em busca de alimento (mamíferos e jacarés); as que vivem nos sedimentos
ou nos bancos de lama adjacentes (crustáceos e moluscos); e as marinhas, que têm no manguezal uma parte de seu ciclo de vida (camarões e diversos peixes de importância comercial).

ECOSSISTEMA COSTEIRO BASEADO NA PRODUÇÃO DE ALGAS MARINHAS

As zonas de maré e submaré (subtidal) são ricas em algas marinhas e sua produtividade
é comparável à das áreas de plantas cultivadas. As algas não possuem raízes, mas são fixadas no substrato por uma pseudo-raiz. Dessa maneira, conseguem resistir ao movimento vigoroso de ondas na zona de maré. São benefi ciadas pelo alto grau de difusão de água nessa zona, possibilitando maior absorção de nutrientes e, conseqüentemente, maior taxa de fotossíntese, servindo como refúgio de larvas e jovens de peixes e crustáceos e oferecendo o hábitat para grande variedade de invertebrados.
Na costa brasileira, é conhecido um grande banco de algas do tipo laminária ao longo do litoral do Rio de Janeiro, desde Cabo Frio até o sul do Estado do Espírito Santo. Nas Regiões Nordeste e Leste, o fundo da plataforma continental é formado principalmente de algas calcárias e por grande biomassa de algas marinhas, que cresce sobre elas. Os estoques de lagosta e peixes, característicos de fundos duros da região, são sustentados direta e indiretamente por algas marinhas.

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